sexta-feira, 29 de outubro de 2010

As cozinhas saloias, eram lugares multifacetados

MUSEU ETNOGRÁFICO DE TERCENA
Visite o Museu Etnográfico de Tercena aberto todos os dias das 10 às 22 horas na Quinta do Filinto em Tercena, mas lendo os nossos artigos, poderá ter uma ideia aproximada de como ele é.
De quinze em quinze dias sai um artigo "REGISTOS DO MUSEU" que lhe fornece elementos preciosos sobre a visita

VIII CAPÍTULO

"AS COZINHAS SALOIAS"

As cozinhas saloias estavam preparadas para tudo, pois em algumas, nas prateleiras encontravam-se os grandes panelões, muitos vindos dos tempos de pais, avós ou sogros e raramente serviam, a não ser nos dias festivos, que, dada as carências da vida naquele tempo, pouco eram utilizados.
O Museu criou igualmente a sua cozinha, e nela muitas coisas lhe faltam, no entanto o velho fogão a lenha era uma mais valia, pois para tudo servia, inclusivamente para aquecer a casa no período de Inverno, naqueles dias onde o frio era de rachar.
Havia também sempre uma vasta colecção de cestos, com que a dona de casa se servia para ir às compras, ao quintal apanhar legumes, ou ainda para se deslocar aos campos em busca de ervas para alimentar os seus coelhos, patos, ou galinhas que criava.
Também estava lá o cesto que portava o milho que alimentava os seus galináceos.
Na cozinha as louças não eram abundantes, já que as famílias mais carenciadas, concentrava apenas o indispensável, dependurado na grade de madeira, tanta vez construída pelo marido, onde se arrumavam pratos, panelas e tachos com que cozinhavam os seus alimentos.
A um canto, guardava-se a lenha que no Inverno teria sempre de estar seca, porque depois de apanhada nos campos, era transportada para um telheiro que sempre existia no pátio e aos poucos arrumada dentro de casa, a fim de enxugar para que não produzisse fumo quando fosse queimada.
Numa prateleira mais ao lado, arredada do fogão estava sempre a telefonia, que, por norma era ligada nas horas de menos movimento, para ouvir o noticiário, ou então à tarde para, atentamente, acompanhar a novela que sempre era transmitida dos estúdios da Emissora Nacional, ou do Rádio Clube Português.
As novelas eram nesse tempo muito apreciadas tal qual hoje, mas através da televisão, o que não havia nesse tempo, pois só a partir de 1957 ela apareceu em Portugal e mesmo assim longe de entrar em todos os lares portugueses, pois nem todos reuniam condições financeiras para adquirirem um aparelho embora houvesse muita vontade disso.
Aqui e acolá figurava sempre um retrato de família, por norma dos filhos, que alimentava o amor da família, cada vez que a mulher o mirava.
Recordava-se sempre dele, pois, ou encontrava-se na escola ou a trabalhar com o pai no campo, só que a maioria dos homens desse tempo, trabalhava, na Fábrica da Pólvora e para o campo só em alternativa, pois existiam ao redor da localidade, muitos casais que por vezes admitiam trabalhadores para os seus serviços.
Em Tercena a grande maioria das pessoas trabalhava na Fábrica da Pólvora e como o marido vinha almoçar a casa, quando ela escutava a sineta da fábrica tocar, tirava o comer da panela, para arrefecer e quando o marido chegava a casa ele já estar em condições de ser comido, porque o tempo era curto e uma só hora para a refeição passava depressa, porque só no caminho levava ele de ida e volta vinte minutos.
A mesa de cozinha era tosca, por norma herdada dos pais ou sogros e as cadeiras, eram guardadas para a sala de dentro, já que na cozinha as pessoas sentavam-se em bancos de madeira, já que em alguns lares era utilizado um único banco corrido, que dava por norma para duas ou três pessoas.
As famílias remediadas serviam-se de todos os seus móveis durante muito tempo, porque não havia dinheiro para os trocar, pois ele era quase na totalidade gasto com a alimentação.
Mais ao lado existia sempre um aparador onde se guardavam as canecas, alguns pratos mais especiais, meia dúzia de talheres e os copos de vidro, e na tosca bancada ao lado da chaminé, estava sempre a talha onde armazenava a água que o marido à tarde, depois do trabalho acartava em bilhas de barro ou de zinco, do chafariz.
Os utensílios mais valiosos e de estimação, quase sempre prendas que tinham sido ofertadas aquando ocorrera o casamento, eram guardados num outro móvel que se encontrava na sala, que servia de casa de jantar para dias festivos e local onde a mulher laborava as suas costuras.
A mulher nas suas horas livres, quando acabava a faina da cozinha, entretinha-se a costurar, por norma a remendar a roupa de trabalho do marido, ou do filho, pois era ela que quase sempre se encarregava desses domésticos serviços.
O chão era de cimento, mas andava sempre muito limpo, pois só as casas de gente mais remediada possuíam mosaicos, mas isso era raro se encontrar por serem adornos muito caros na época.
No tecto existia sempre uma simples lâmpada, mas só nas localidades onde já havia electricidade, o que acontecia em Torcena, nas primeiras décadas do século passado, mas existiam outros lugares da freguesia e terras de outros concelhos vizinhos, onde a luz só apareceu muitos anos depois.
Tercena teve electricidade no domicílio muito cedo e isso foi uma mais valia, pois a vida era outra e os serões duravam até mais tarde, porque os lares que possuíam candeeiros, esses eram apagados bem cedo, porque o petróleo escasseava e era preciso poupar.
Por isso a cozinha portuguesa da gente pobre, ou remediada era diferente das outras pessoas que já possuíam outro nível de vida, mas imperava, a limpeza, e em todas elas não podia faltar o barril da água-pé, que o marido fazia questão pelo S. Martinho ofertar aos amigos, já que no quintal havia sempre espaço para se manter umas parreiras, que para além de sombra que proporcionavam no Verão, davam esse precioso néctar que foi sempre muito apreciado em Tercena.
Na cozinha tudo se fazia, servindo até para receber as vizinhas, que durante o dia, aquelas que se mantinham em casa, devido aos muitos filhos que possuíam, procuravam aquele lar, apresentando como pretexto, o pedido de alguma coisa que lhe faltasse, por empréstimo, para darem um “pouco à língua”, expressão que ainda hoje perdura por todo o lado, para o mulherio trocar informações, ou contar novidades do dia a dia da terra.
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quarta-feira, 27 de outubro de 2010

A propósito do Orçamento do Estado

O Orçamento do Estado tem estado a suscitar um grande receio nos portugueses, contudo, acabamos por tirar algumas ilações sobre esse terror lançado,porque estas coisas não são feitas ao acaso e algum aproveitamento disto, alguém há-de retirar.




AI ORÇAMENTO, ORÇAMENTO,
QUE ILAÇÕES NOS PROPORCIONAS !

O povo português anda assustado com toda esta movimentação em redor do Orçamento do Estado, pois as conversas têm sido tantas, as ameaças tão aterrorizadoras, que o “Zé Povinho” já anda alvoraçado, com vontade de tirar as suas parcas economias dos bancos, e pensar em coisas que até aqui estavam longe de ser pensadas.
As reformas congeladas, os ordenados reduzidos, as abonos de família retirados às inocentes crianças, os juros a aumentarem, o IVA a subir novamente, o IRS alterado, e um sem número de “facadas” nos bolsos dos portugueses, que francamente não estranhamos de que na realidade as pessoas andem assustadas.
Será que o povo português vai ver “esquartejados” os seus valores ?
Ou tudo isto não passa de simples ameaça, para o povo começar a pensar melhor no dia de amanhã, o que já não acontecia desde os tempos poucos saudosos de Salazar ?
Antigamente é que as pessoas tinham de deitar contas à vida e pensar seriamente no dia de amanhã, mas depois, aos poucos foi perdendo essa ideia, mas hoje na realidade, mesmo sem existirem estas dúvidas e este tão grande impasse sobre a aprovação do Orçamento do Estado, já pensam melhor, porque tudo está a subir, os ordenados a baixarem e as pessoas a obrigarem-se a um outro regime de vida.
Os mais antigos, são capazes de não estranhar muito, porque já passaram por essa fase e não foram dois nem três anos, mas uma vida inteira, agora os mais novos, habituados a que nada lhes falte?...
A terem tudo à mão e dinheiro quanto baste para as suas extravagâncias, por certo que irão sentir bastante, pois até já há paizinhos tão amigos de seus filhotes que se antecipam às suas vontades e gostos, garantindo peremptoriamente, “o meu filho não gosta disto”, sem saberem se na realidade assim acontece.
Chegou-se a uma época que na realidade o esbanjamento, a fartura atingiu limites abusivos e como tal, com estas medidas de austeridade anunciadas agora por este governo, são bem capazes de deixar esta gente nova, a pensar duas vezes, alterar os seus comportamentos, quer alimentares, sociais e passar a ser mais modesto nas suas escolhas de vestuário, nas suas saídas diárias e afinal pensar um pouco mais no dia de amanhã que na realidade ninguém sabe como ele será, e hoje isso nunca foi tomado em contra.
O momento de facto é grave, mas não vai ser também nenhum “bicho de sete cabeças”, como muitos oposicionistas parecem fazer crer, só que, com estas vozes apavoradas, que o povo cada dia vai escutando, mais se vai assustando, mesmo sabedor de que não irá passar de mais uma crise.
Poderá ser até excelente para a modificação dos seus já exagerados comportamentos, pois constatamos que já andava a gastar mais que aquilo que podia, e a prova disso, está no dilatado número do dinheiro de plástico que gasta, na aquisição de habitações próprias sem ter meios suficientes e garantias para as pagar, criando compromissos de pagamento que depois não conseguem ser cumpridos, quando antigamente, o que valia era a moedinha que escasseava no bolso, e as casas que eram alugadas sem a preocupação do luxo ou da vaidade de possuir melhor que o seu vizinho e vivia-se.
Agora não, qualquer bicho careta quer ter uma casa sua e se possível uma na cidade e outra ou no campo ou na praia e os cabazes de compras que chegam ao lar vindos dos shoppings, ou supermercados, trazem uma factura que na maioria das vezes, os seus valores nem são vistos, porque quem paga é o cartão do banco e não a “pessoa ??”
Ora por isso mesmo, os portugueses estão endividados, e a resposta quando se fala nesses disparates, e nessas despesas exageradas, vem sempre de vários lados.
“Alguém terá de pagar a crise”.
Portanto e baseados nesta tão singela ideia e por que não resolução, as vozes assustadoras que se escutam, haverão de ser superadas, e naturalmente para a semana, ou para a outra, já tudo passou, porque o tão badalado “Orçamento do Estado” foi aprovado, já que o maior partido da oposição o viabilizou porque precisa de votos para poder regressar ao Poder, faz o jeitinho ao actual governo e a vida… a vida continua, até que o ar que circula gratuitamente no espaço deixe de entrar no corpo humano e francamente surja outra crise, já que estamos no século das crises e os países da Comunidade Europeia, costumam sempre vencer esses maus momentos com as greves.
A maravilhosa greve, que até dá para muitos irem até à praia no Verão, ou aproveitar o fim de semana dilatado, como quase sempre coincide, para se ir à santa terrinha !...
Outros, depois da manifestação vão para o restaurante comer e beber à francesa e o dinheiro para reparar os mais que necessários distúrbios que sempre sucedem, terá de aparecer, porque isto de crise… francamente, depois do 25 de Abril não tem passado de uma verdadeira treta.
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terça-feira, 26 de outubro de 2010

VIAGEM A ÀUSTRIA
BRUCK AN DER MUR

PRÓLOGO

COMO TUDO COMEÇOU
Esta deslocação à Áustria, mais propriamente a Bruck an der Mur, estava longe dos horizontes do Rancho de Tercena, uma vez que logo no início do ano estava prevista uma deslocação à Madeira, a Porto Santo, para o grupo participar no VIII Festival daquela Vila.
Os projectos estavam elaborados, o convite tinha surgido, e o Plano de Actividades previa uma deslocação, só que na altura em que foi elaborado jamais se sabia onde se dirigia a deslocação do ano seguinte, embora a despesa manifestada não ultrapassasse os doze mil euros.
Nesta conformidade, tudo estava indicado para uma visita à Madeira, com o grupo a deslocar-se ainda, excepcionalmente à cidade do Funchal, para actuar em qualquer lugar que coincidisse com as datas daquela viagem que estava prevista para os últimos dias do mês de Agosto.
Entretanto, chegou ao conhecimento da direcção da Associação que, a sua Câmara Municipal, iria reduzir os subsídios do ano, e como tal, logo aí houve um afrouxamento da ideia, contudo consultados alguns elementos responsáveis da autarquia, estes informaram que os cortes, se de facto existissem, seriam diminutos e a ideia prevaleceu, mas ao saber-se que um outro grupo do concelho ali se deslocava igualmente, neste caso o Grupo “As Lavadeiras” da Ribeira da Laje, logo a deslocação perdeu força, porque se tratava de dois grupos com as mesmas características e isso poderia não ser muito agradável.
Entretanto o responsável pelo Festival insistia com o grupo de Tercena, porque precisava de mais um rancho do continente e então a ideia ficou definitivamente assente.
Ao chegar a Abril, a Associação soube que os subsídios estavam atrasados e como tinha de fazer a reserva da viagem de avião e as finanças não erram as melhores, acabou mesmo por tomar a decisão de desistir de ir ao Porto Santo, juntando ainda a isto o facto de ali se deslocarem dois grupos do concelho e representando a cultura saloia.
E assim ficou determinado, com alguns elementos do rancho a ficarem tristes por não haver nenhuma saída para fora e logo no ano em que a colectividade completava vinte anos de existência, mas a direcção ponderou decidindo que, seria pouco prudente arriscar uma viagem, quando se desconhecia quando é que os subsídios seriam pagos.
Ao atingir-se o mês de Julho, a Associação recebeu um convite do Inatel para deslocações a vários lugares, entre elas a que se dirigia a Bruck an der Mur.
Como continuava a saber que a sua Câmara iria fazer uma pequena redução nos subsídios devido à crise, foi ponderada a ideia de ir à Áustria, uma vez que o convite garantia que o alojamento e a dormida seriam por conta da organização austríaca e como tal isso iria ficar muito mais barato que a inicialmente prevista para o Porto Santo.
Inscreveu-se e como a data era próxima da inicialmente indicada para aquela vila madeirense, e como alguns folcloristas já tinham marcado férias para essa altura, a inscrição foi efectuada.
Foram feitas as reservas dos lugares de avião, numa agência de viagens, que até nem fez muitas exigências quanto ao pagamento e ficou decidido, contudo reinava a grande expectativa da viagem não correr bem na Áustria por ali se falar alemão e ninguém do grupo entender essa língua, mas havia lá alguém que falava inglês e isso já se tornava mais animador, contudo do grupo só três ou quatro pessoas ”arranhavam” essa língua.
Foi então que o responsável pela viagem pediu à organização, para ver se lhe arranjavam uma guia que falasse português, ou espanhol, vindo de imediato a resposta de que havia uma senhora que falava espanhol e inglês.
Os ânimos floriram e o grupo partiu precisamente no dia 1 de Setembro ás 6,15 h num avião da Lufhdansa com escala em Munique.
Em Viena estava uma senhora à espera do rancho, mas só falava inglês, o que fez murchar um pouco os ânimos, contudo, no primeiro dia quando os grupos foram apresentados no jantar, a alegria invadiu o rosto dos elementos do Rancho português, pois a guia que estava reservada para as “Macanitas” de Tercena, falava português.
Foi uma explosão de contentamento que apareceu em todos os rostos portugueses ao ouvirem àquela distância soarem palavras na língua de Camões, pois embora um português algo trapalhão, dava muito bem para se entender e foi assim que o grupo acabou por passar os cinco dias que ali esteve, falando com a Cristiana, que percebia umas coisas, outras não entendia, mas com inglês à mistura, um pouco de espanhol e algumas frases em francês, tudo foi perceptível e nada lhes escapou no respeitante ao entendimento, mas aquilo que se pretendia divulgar, ou sejam, as razões porque estava ali o grupo português ?.... O que representava o rancho, o que ele significava em Portugal ?...
O que queriam dizer os seus utensílios e as razões pela qual os transportavam consigo, ficaram por explicar porque a Cristiana, apesar de saber um pouco de português, não foi capaz de dar essa explicação convenientemente, pese embora em certas actuações as pessoas terem entendido melhor, porque como eram apresentadas as suas danças em exclusivo, e não havia a preocupação do tempo de actuação, essas pessoas acabaram por ser privilegiadas e como tal via-se mesmo no rosto dos austríacos que compreendiam o porquê de toda a tralha que o grupo levava consigo.
Por isso, das treze actuações executadas, pode-se garantir que foi muito positivo porque só em três é que essas explicações não foram feitas, mas a verdade é que o tempo também condicionou, uma vez que era escasso e mal chegava para se apresentarem as principais modas.
Também é verdade que os outros grupos não tiveram com essas preocupações, pois apresentaram um repertório pouco condicente com os seus hábitos, costumes e época, já que a ideia era, a experiência algo lhes dizia, que o necessário era agradar ao público e pouco mais.
Os portugueses pretendiam, bem ao invés, também agradar, mas explicar bem porque razão não se apresentavam as mulheres de cabelos arranjados, unhas ou lábios pintados, porque na época em que tudo aquilo se passara nada disso era usual e as pessoas apenas viviam preocupadas com o trabalho e com o modo mais eficaz de sobrevivência, já que toda a gente era pobre e vivia praticamente do trabalho rural.
Analisando os grupos que ali se apresentaram, nos anos quarenta do século passado, a pobreza era grande e geral no seio da Europa, muito especialmente na Alemanha, na Áustria, na Roménia, na Itália, Bulgária, na Croácia e na Holanda porque a Europa estava em conflito e como tal tudo se devastara, e as pessoas viviam ainda em piores condições que em Portugal, e como tal deveriam apresentar-se com trajes pobres e não com o aparato de fatos garridos, curtos, de tecidos modernos e francamente ricos.
É precisamente nestes pormenores que os portugueses saíram da Áustria com sucesso, porque quem escutou estas explicações, e as assimilou, ficou a saber que na realidade estavam diante de um grupo que representava a sério o seu povo de antanho, os seus usos, costumes, tradições e afinal o seu real valor social no final da II Guerra Mundial.
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Haverá mesmo falta de emprego em Portugal ?

HAVERÁ MESMO FALTA DE EMPREGO EM PORTUGAL ?


Todos os dias somos confrontados com notícias que garantem informam haver desemprego em Portugal e que por essas razões, este é uma das causas do grande problema económico no nosso país.
Afinal há mesmo, declaradamente, desemprego no nosso país, mas os portugueses também, por um lado mostram não quererem trabalhar, porque ao entrarem no “Fundo de Desemprego”, sentem-se bem, porque recebem uma percentagem do seu ordenado e depois complementam a parte em falta, com os biscates que acabam por arranjar aqui e acolá.
O pior está quando são chamados para lhes ser atribuído um trabalho, negando-se terminantemente a ele, porque dizem receber menos que aquilo que lhes pagavam na casa de onde fora despedido, ou falira.
Afinal que exigências são estas, por parte dos desempregados ?
Se a pessoa está desempregada, deveria ser obrigada a aceitar o novo emprego, porque este, nada tem a haver com aquele que anteriormente possuía.
O Estado deveria por cobro nestas abusivas situações, pois se não aceitasse o novo emprego, deveria ser-lhe cortado imediatamente o subsídio que recebia.
Com tanta aflição que o governo de Sócdrates vive, porque razão esta medida não é tomada ?
Baixaria certamente a dívida pública, pois seriam uns quantos que, deixariam de receber a “chulisse” do Fundo de Desemprego e obviamente por este processo, os números teriam forçosamente de baixar.
Mas não. A oposição no nosso país não defende os interesses nacionais, apenas pretende dizer mal, conspirar, e estar, politicamente, contra o governo em exercício, pelo menos os que não são da sua cor política, porque no fundo, esses senhores até concordam em parte com algumas políticas governamentais, mas quase são obrigados a criticar, votar contra, negarem-se e oporem-se às decisões apresentadas, só para chatear.
Por outro lado, também é sabido que vagabundeia pelo nosso país milhares de estrangeiros vindos dos mais diversos países, do Leste, do Brasil, da América do Sul, de África e tantos outros que, não se encontram legalizados em Portugal, mas continuam a viver cá, muitos até apenas com apenas passaporte de turista.
Essa gente tem de comer, beber e fazer a sua vida, embora muitos da forma mais rudimentar e marginal.
A grande verdade é que uma maioria acentuada conseguiu emprego clandestino, porque esse, nunca faltou no nosso país, e portanto deveria de haver uma maior inspecção sobre isto, porque são esses senhores que andam a roubar o emprego aos portugueses.
Se essa gente vigiada e se porventura não estivesse legalizada, deveria ser imediatamente repatriada, porque afinal, só andam cá, muitos, por norma aqueles que nada conseguiram arranjar para trabalhar, a roubar, matar, violar e fazer uma série de crimes que têm deixado os portugueses aterrorizados, o que não se via antigamente.
Essa gente marginal, deveria ser reprimida de uma forma diferente, a exemplo do que acontece nos Estados Unidos da América, Canadá e países mais controlados: agarrar nesses cidadãos estrangeiros e mandá-los imediatamente para as suas terras, porque nada têm que fazer cá, nem interessam à sociedade portuguesa.
Também os arrumadores de carros, quase todos são estrangeiros andam a roubar o trabalho a muitos portugueses.
A grande prova real de que esta gente anda a governar-se à rica, é observarmos esses vagabundos, quase todos os dias junto dos locais de estacionamento, mal vestidos, sujos, barba crescida, cabelos desordenados ou metidos em sebentos carapuços de aspecto esfomeado, a angariarem nas sua pedinchas junto dos automobilistas uma moedinha.
Essa tão, modestamente, solicitada moedinha, acaba por lhes fornecer diariamente um ordenado superior àquele que um empregado médio, tira no seu emprego e trabalhando por vezes no duro e com horários dilatados.
Vimos deslocar-se ao “Minipreço” um jovem trocar quarenta euros em moedas que tinha angariado, só no período da manhã e dizia-nos a funcionária do estabelecimento que todos os dias aquele jovem lhe pedia para trocar cerca de quarenta a cinquenta euros.
Isto dá e bem para entender que o problema em Portugal, onde as finanças cada vez são mais curtas, o cinto cada vez mais a apertar aos portugueses, bem poderia ser melhorado, pois esta gente não paga impostos, vive em barracas, sem documentação válida, anda a roubar locais de trabalho aos portugueses.
Porque não se mete olhos sérios nestes casos gritantes ?...
Será tarefa difícil, ou haverá medo de represálias, temendo ser o próximo alvo a abater ?
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Como e porque razão foi fundado o G.R.T.

Filosofando sobre culturas ancestrais
II

COMO E PORQUE RAZÃO FOI FUNDADO O G.R.T.

Foi em 1928, no dia 1 de Agosto que se fundou o Grupo Recreativo de Torcena, na freguesia de Barcarena, concelho de Oeiras, facto tão banal, que a grande maioria das pessoas que hoje habita em Tercena desconhece por completo.
Um grupo de amigos pensou na criação de um espaço aberto a toda a gente, incentivar uma biblioteca, fazer festas de beneficência, estabelecer aulas de música, cultura geral e principalmente promover o teatro.
Era também intenção da nova colectividade, organizar uma filarmónica, promover conferências, palestras e leituras de interesse e inclusivamente publicar um boletim, que passasse a ser órgão do grupo.
Inserido num meio rural, onde a maioria dos habitantes era analfabeta, a criação desse espaço cultural e recreativo, abria amplas portas às carências verificadas no lugar, nesse campo e hoje essas tão boas intenções, acabaram por não ser preservadas, porque esses históricos, heróis do passado, acabaram por morrer e muitos não conseguiram transmitir esses feitos aos seus sucessores, pelas mesmíssimas razões, falta de cultura, entenderem serem destituídas de qualquer interesse e afinal, tratar-se de factos de mero valor, em relação a tudo quanto se faz nos nossos dias.
O Grupo não tinha sede e depois de ter iniciado as suas primeiras festas no pátio do Guizo, nome de um antigo morador tercenense, situado ao cimo da Avenida de Santo António de Torcena, quase ao lado do velho casal saloio, do Conde da Azarujinha, mais tarde transformado em mercado provisório, o Grupo teve aí o grande arranque, cujos bailes ao ar livre, deram motivo a uma congregação de esforços e ideias e fazer com que o grande empreendimento arrancasse definitivamente.
Mas a falta de uma sede, constituía o grande empecilho de momento, pois chegava o inverno, toda a euforia vivida no Verão pela carolice de muitos chefiada pela velha Estefânia Antunes mulher do Tapiço, perdia-se e o entusiasmo que antes se criara, levava os inúmeros carolas a esmorecer.
As reuniões eram feitas junto ao chafariz da terra, pois ali sentados conversavam e traçavam os seus planos, quais sonhos difíceis de concretizar, muitas vezes interpelados pelo mulherio que lavava as suas roupas ali mesmo e também elas estavam interessadíssimas que o projecto fosse por diante.
Muitas contrariedades surgiam, muitas dúvidas, mas a verdade é que a grande vontade superava tudo isso e o desânimo que por vezes aparecia naquele punhado de jovens, logo se dissipava e o moral crescia avançando com as suas ideias, factos que o popular historiador Fernando Silva, conseguiu recolher a seu pai que era um desses fundadores e por isso, essas importantes histórias ocorridas em finais dos anos vinte, terem sido preservadas até aos dias de hoje.
De qualquer forma o projecto desse grupo de rapazes interessados no virar da página daquele monótono lugar, mantinha-se aceso no cérebro dos mais activos, dos mais dinâmicos e logo apareceu a ideia de se organizarem na velha Capela de Santo António, templo dado ao abandono, em completa degradação, onde o velho Efigénio e a Aurora apenas tomavam conta, pois viviam numas modestas casinhas ao lado, já que a igreja tinha sido atacada por gentes desconhecidas logo a seguir à I Guerra Mundial e roubada parte da sua grande riqueza patrimonial.
O seu principal e valioso atractivo, a colecção de azulejos representando algumas parábolas e milagres de Santo António, tinham em parte, sido levadas e urgia preservar, por vontade expressa do povo da terra, o que desse tesouro restava ainda.
O facto do imóvel se encontrar em mau estado não constituiu qualquer problema para quem tanta força de vontade possuía, mas sem a autorização para o ocupar, é que nada se podia fazer, portanto constituía o grande quebra cabeças, o grande obstáculo para toda aquela boa gente que apesar de tudo, também pretendia defendê-lo a todo o custo, de possíveis outros saques.
Mas não havia nada que não se resolvesse e demais existindo a força e união entre as pessoas e então eis que um grupo de amigos se deslocou ao Governo Civil de Lisboa e aí conseguiu obter a tão desejada resposta, contactar o Patriarcado de Lisboa, só ele poderia resolver os seus desejos, o aluguer da igreja mediante o pagamento de uma renda de cinquenta escudos por mês, que lhe fora exigida, que de início era considerada uma importância grande para aquela época.
Os ânimos floriram, os braços e cérebros dos briosos jovens foram desafiados e logo todos, mais uma vez unidos, começaram uma obra rápida de restauro das velhas instalações religiosas, para pôr em prática, no local onde a missa já há muito tinha sido posta de parte, uma nova actividade recreativa e cultural.
Sem dúvida que foi “ouro sobre azul” que apareceu em Torcena e com ele surgiu a grande glória de conceber-se uma casa que pertencesse a todos os tercenenses, sobretudo onde reinasse a ideia de se confrontarem com o Grémio Escolar de Torcena, colectividade onde reinava um ambiente de verdadeiro snobismo, existente no bairro da Estação e que era frequentado pelos senhores de posição da terra e onde nem toda a gente do lugar tinha o devido acesso.
A colectividade agora instalada na Capela, por seu lado também não era bem vista pelos directores do Grémio e demais por estar adaptada dentro de um “templo sagrado”, embora comprovadamente desactivado há muitos anos e sem nunca ter encontrado gente capaz e com força anímica de o por em funcionamento.
Esse facto originou alguma polémica entre as duas colectividades e criou também uma certa distanciação de classes, só que o Grupo Recreativo de Torcena, depressa conseguiu angariar a necessária simpatia de povo menos abastado e numa conjugação de esforços, toda a gente se propunha levá-lo o mais longe possível.
Dividido o espaço que dispunha a Capela, logo se deu ao altar o lugar para se instalar no palco, seguindo-se a sala e nos anexos, os gabinetes da direcção, comissões e também o bufete, um dos grandes sustentáculos da colectividade.
Aliás, ainda hoje são os bares, o grande suporte financeiro da maioria dos clubes desportivos e recreativos do nosso país, pese embora hajam actualmente subsídios governamentais e camarários que visam preservar esses espaços valiosos, que lutam desesperadamente com manifestas dificuldades e de toda a espécie, sendo a falta de directores habilitados, a maior carência.
Fernando Silva escutou tudo isto, não só a seu pai, como a seus avós paternos, já possuidores destas narrativas escutadas aos seus bisavós, Tapiço e Estefânia, grandes animadores da cultura popular, antes da fundação do grupo.
Em Janeiro de 1929 a colectividade reuniu a primeira Assembleia Geral Extraordinária do Grupo Recreativo de Torcena, que aprovou os seus estatutos e a mesa era constituída pelo presidente Domingos Guedes da Silva, 1º Secretário Duarte da Silva e 2º Secretário, Artur Braga da Silva.
A partir desse dia a colectividade estava oficializada e fazia calar as importantes gentes do Bairro da Estação, pois aquele documento aprovado era a “régie” da nova sociedade, muito embora houvesse os estatutos internos em que se baseava todo o trabalho e regimento das direcções de todos os corpos gerentes e respectivas comissões de apoio.
De princípio, o Grupo conseguiu angariar cinquenta associados que pagavam dois escudos por mês que, mesmo assim, chegado ao seu termo, se via aflito para apagar o aluguer da sede, contudo o bar, as festas e tantas outras iniciativas, faziam com que o saldo fosse sempre positivo.
As comissões começaram a formar-se e de repente o teatro, a música, as organizações recreativas apareceram em catadupa, galvanizando cada vez mais os habitantes de Torcena que trabalhavam com afinco e sobretudo com muito amor para a sua colectividade.
Estefânia Antunes, Américo de Carvalho, Libertário da Silva Freire, Filinto Silva, Duarte Silva, Domingos Guedes, Artur Braga da Silva e tantos outros, foram nomes que muito se distinguiram no seio daquela casa que de princípio bem tiveram a percepção de que viviam num local que não era o seu e era urgente conseguir o seu património, para então poderem dar largas à sua euforia, ás suas verdadeiras pretensões, aos seus reais quereres.
A construção de uma sede própria e devolver a capela aos cristãos, era tarefa urgente, por forma a que eles, motivados por aquela inesperada e ordeira ocupação, restabelecessem o mais rapidamente possível o culto na localidade, também muito necessário e desejado pela maioria da população.
Esta tomada de atitude e esta conquista, era a real prova de que o povo de Torcena estava interessado no virar da página, aumentar o seu grau cultural, dotar as pessoas com novos conhecimentos e essa ideia forte, aparecia através da criação de estruturas sólidas, como acabaram por ser a música, o teatro, a biblioteca e tantas outras actividades, e por muito incrível e estranho que pareça, dentro de uma igreja abandonada que, em seu devido tempo e respeito, fora devolvida a quem, por gentileza, por razões altamente justificadas, a conservação de um imóvel classificado em risco de degradação total, lhes fora alugado.
E a nova sede aparecia dez anos depois, e tal qual como fora o seu prometimento, o templo dedicado a Santo António fora entregue ao Patriarcado, ainda em melhores condições de como fora recebido, mas a ideia, a essência, a grande razão com que fora o projecto estabelecido, estava cumprida e fortemente solidificada, a criação de meios que pudessem dotar o povo da terra com mais acesso à cultura e com isto retirar do analfabetismo, tantas pessoas, quantas aquelas assim pretendessem.
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Filosofando sobre culturas ancestrais

Filosofando sobre culturas ancestrais

I

AS VÁRIAS DIFICULDADES NO INÍCIO DO SÉCULO XX
Tercena, foi sempre uma terra pequena e muito desinteressada dos assuntos fundamentais e que, sobretudo, deram origem à sua formação, e isso, devido ao baixo grau cultural do seu povo, composto por pouco mais de uma centena de pessoas que vivia em reduzido número de casas térreas e nalguns casais agrícolas da periferia.
Não foi por acaso que um grupo de jovens na terceira década do século XX, pensou na criação de uma colectividade em Torcena, pois sabia que elas existiam, nomeadamente na vizinha Barcarena, onde fora criado um grupo de “soli dó” e mais tarde acrescido de uma corporação de bombeiros.
Gente que trabalhava em prol da cultura, com a criação de um grupo de teatro, uma banda de música, uma biblioteca, formas de poder dotar os seus sócios e simpatizantes do conhecimento ligeiro das coisas fundamentais da vida, dos factos, mas sempre longe de lhes darem a conhecer as origens do seu povo e isto, talvez, por ignorância, não só por não serem curiosos, não falarem com os seus idosos, justificando-se hoje todas estas carências devido ao regime em que se vivia, depois da queda da monarquia.
O povo esteve sempre fechado, agarrado à ditadura monárquica, sujeito às vontades reais e depois o esbanjamento que se fazia na corte e as carências do povo, deram origem a que este se soltasse e instaurasse a República Portuguesa.
Daí em diante foi um desenvencilhar de ideias, de criação de novos hábitos, tendo sido fácil com tanta liberdade, chegar-se a uma razoável e preocupante anarquia em todos os aspectos e os processos levados a cabo para fazê-la extinguir, demoraram, atravessaram o período infernal da I Guerra Mundial, mas o povo queria mais, mas não sabia como alcançar os seus desígnios, e os governos, consecutivamente, não conseguiam por cobro na forma impensada do povo actuar, até que a mão de ferro, chegou ao poder.
Salazar tomou as rédeas do país e com a sua chegada, tudo serenou e foi nessa altura que Portugal entrou no verdadeiro caminho.
Acabaram-se as leviandades e o povo entendeu então que bastava de loucuras, aceitou o regime salazarista e até ficou satisfeito com os primeiros passos dados, as directrizes indicadas, os conselhos régios, o rigor, e foi quando então as famílias portuguesas, entenderam o novo trilho a seguir, adaptando-se às novas regras do país, só que a grande falta de cultura que grassava no país, consistia uma das grandes e preocupantes carências portuguesas, pois as pessoas estavam habituadas a trabalhar e pouco mais tinham para combater esse desgaste quotidiano e foi então que muitas localidades, inclusivamente Torcena, se dedicaram um pouco mais ao associativismo, criando os seus grupos, onde pudessem adquirir ideias mais concentradas, estabilizadoras e sobretudo criar locais onde se pudessem, não só divertir, como educarem-se e adquirirem mais conhecimentos.
E foi assim que apareceu um grupo de jovens tercenenses que se propôs criar uma colectividade para tentar dar ao seu povo um pouco de mais conhecimento, sobre a cultura.
Mas quem eram eles, para poderem avançar com um programa mais rigoroso, que difundisse mais e melhores conselhos, se afinal eles, também pouco mais sabiam ?...
Embora possuidores da sexta classe, aconselhada naquela época, como mínimo de escolaridade mas não para toda a gente, porque as pessoas tinham de trabalhar devido ás grandes carências que reinavam em seus lares, o Grupo Recreativo de Torcena, foi o berço desses mais desprovidos, e o ensino do teatro, da música e afinal esses princípios culturais foram-se enraizando, ao ponto de se criar uma orquestra que evoluiu até aos anos cinquenta, tornando-se mesmo numa das melhores da área metropolitana de Lisboa, acabando por se extinguir depois, em meados dos anos cinquenta.
Criou-se uma biblioteca que, curiosamente, era dirigida e bem, por uma pessoa analfabeta, homenagem seja prestada a Doroteia de Oliveira que a dirigiu durante algum tempo.
Formou-se um grupo cénico que fazia representar gente minimamente letrada, conjuntamente com analfabetos mas cheios de vontade de aprender a ponto de saírem dele, grandes amadores teatrais e foi esse agrupamento que mais se difundiu nessa época, que, com o avançar dos anos, respeitando as alterações precoces impostas pelo ditador Salazar, obrigavam a que as pessoas cada vez mais se refugiassem nessas colectividades, esquecendo a política, deixando a turbulência em que se vivia uns anos atrás, tendo sido mesmo fundamental para se dar início à revitalização e reconversão do povo, que por estes métodos ia tomando conhecimento de alguns factos que até então lhe eram estranhos, mas jamais preocupando-se com as raízes da sua terra.
Foi desse trabalho fecundo nos anos cinquenta que Fernando Silva surgiu, mercê do seu entusiasmo, da sua força de vontade e do grande gosto que nutria pela arte de Molière
Nesse tempo o povo lembrava vagamente as histórias dos seus familiares, mas a vida, sempre a dureza da vida era uma constante preocupação, porque as regras governamentais iam sendo cada vez mais rígidas.
Salazar, tentava acabar com os abusos e terá conseguido mas por um processo ditatorial, determinado, e sobretudo repressivo, que aos poucos ia aumentando e por isso revoltando as gentes deste nobre país.
Isso terá sido uma das causas por que o povo se foi esquecendo do passado, porque o futuro mostrava-se pouco risonho e o presente era duro, bastante difícil mesmo, quase impossível de suportar e quem se atrevesse a tentar alterar a situação, era severamente castigado.
A falta de estudos mais avançados terá sido fundamental, porque as pessoas limitavam-se ao seu dia a dia de trabalho. Casa, emprego e vice-versa e pouco mais, restando-lhe um ligeiro tempo ao serão para dedicar à sua colectividade e era essa forma de cultura, carente, debilitada, que ia adquirindo, não havendo, nem estudos, nem interesse para se poderem debruçar sobre o passado.
E assim foi vivendo o povo agarrado e seriamente atento ao cérebro tendencioso e tenaz da ditadura salazarista, aos seus inconvenientes, às suas repressões e sobretudo, acabando por acatar, devido aos pesados castigos, às injustiças, às leis que saiam e protegiam apenas os senhores, os ricos, os capitalistas e os trabalhadores, enquanto que os pobres, eram desprotegidos, limitados ao primeiro ciclo de escolaridade, que nem sequer era obrigatório pois a maioria, dadas as grandes dificuldades nos seus carentes lares se obrigava a faltar às aulas e como tal, limitando o seu futuro, sujeitando-se aos trabalhos de campo e pouco mais, levando uma vida de autêntico escravo.
Salazar impôs muito camufladamente a lei do silêncio, do terror, do analfabetismo, colocando as pessoas bem longe até da vulgar cultura popular e mais não tinha acesso, pois as pessoas nasciam, viviam e acabavam por morrer sem saberem o passado da sua gente, dos seus avós, dos seus bisavós e afinal daqueles que tanto tinham labutado para que eles tivessem chegado até ali e como as histórias eram tão singelas, tão iguais umas às outras, que nem sequer valia a pena nelas falar, porque afinal, as suas vidas, eram iguais à dos seus antepassados, na óptica deles, vazia, sem nada de registo, apenas preenchidas de trabalho, sacrifício, com muitos lares repletos de fome, dor e morte e pouca ou mesmo nenhuma relevância acabavam por lhes dar, perdendo-se no decorrer dos anos e torturas da vida.
Isto repetiu-se até, praticamente, ao final da primeira metade do século XX, altura em que algumas luzes se acenderam, algum modernismo apareceu, através do surgimento da televisão.
O mundo visto pela TV, embora de uma forma censurada e manipulada pelo Estado português, foi sendo mostrado ao povo que, o recebeu de braços abertos, curioso, ávido, desconhecendo que tudo que passava pelo ecrã era rigorosamente seleccionado, preparado, mas que importava, se o que lhe era mostrado era sensacional, maravilhoso e de espantar ?...
Ouviam falar disto e daquilo mas na maioria das vezes não se fazia a mínima ideia de como podia ser, acontecer, como era, como se vivia e isso, passado algum tempo, acabaria por ser fundamental para despertar a curiosidade das carentes pessoas, que viviam nesta Tercena e em todas as outras “tercenas” do pais, verdadeiramente de olhos vendados e ouvidos mocos ao exterior.
A ditadura impusera severas condições, regras rígidas, mas afinal, os mais curiosos, alguns acabaram mesmo por ser severamente castigados, por tentarem passar clandestinamente ideias e mensagens de que afinal, havia mais, melhor e mais interessante para o povo tomar conhecimento, só que tudo isso era escondido, para evitar que o povo se revoltasse e os que eram descobertos nessa transmissão de ideias, era castigado.
O Tarrafal que o diga!.... O Aljube, estava cheio de gente injustamente encarcerada.
Felner Duarte de Barcarena, Joaquim da Silva de Leceia vulgo o “Pirata” e Júlio do Rego de Valejas, foram massacrados pela Pide, numa tentativa de darem esses novos conhecimentos considerados subversivos ao povo da freguesia de Barcarena e foi então que a guerra começou, numa luta tenaz, mas escondida, atamancada, injusta que levou muita gente à morte, à repressão, ao duro castigo que só viria a terminar em Abril de 1974.
Por tudo isto o povo de Tercena cresceu, viveu e morreu sem saber verdadeiramente o real historial da sua ancestral gente, evidenciando uma total ignorância no respeitante ás suas origens, por todos estes atropelos, que duraram quase cinquenta anos, tendo sido mesmo a razão porque hoje muito pouca gente natural da terra, ignora a maioria das histórias ocorridas pelos sacrificados seres que se atreveram a viver neste torrão desde, pelo menos, o século XIII no reinado de D. Afonso III.
Gente que não teve tempo, cultura, nem a mínima preocupação em deixar gravadas essas histórias, esses sofrimentos, esses grandes sacrifícios, porque a ditadura de Salazar fora grande, traiçoeira, pois se porventura alguém se atrevesse a escrever fosse o que fosse, sobre essa dureza de vida imposta aos portugueses, a partir dos anos trinta, tinha o devido e severo castigo e assim aqueles que resistiram e tiveram a felicidade de chegar aos dias de hoje, muito poucos são eles, limitaram-se a contar vagamente as histórias ocorridas apenas com os seus familiares e pouco mais, mas mesmo assim a perderem-se com o seu desaparecimento e acabarem por ser esquecidas, por nítido desinteresse dos seus seguidores.
Poucas histórias ficaram, restando apenas aquelas que os curiosos, e atrevidos corajosos, que tudo gostam de saber, tiveram a arte e o engenho de as desencantar a essas bibliotecas vivas, que entretanto foram desaparecendo.
São essas que se impõe levar urgente e insistentemente às novas camadas, felizmente evoluídas, com estudos, com preocupações acrescidas, agarrados a especialidades, devido à grande concorrência dos nossos dias e que hoje, esses estudos, são conhecidos por antropologia na sua vertente etnográfica, bem entrosada ao folclore dos nossos dias.
Foi com grande dificuldade que essas histórias apareceram fidedignamente relatadas, estudadas com rigor, algumas mesmo descodificadas devido a essa fraqueza cultural dos entrevistados, muitos já de memória esquecida e são essas preciosas narrativas que irão prevalecer no futuro, constituindo, felizmente ainda, um vasto rol de assuntos em todas as áreas, para se poder valorar a valentia e coragem dessa gente que tanto sofreu para fazer o seu ciclo de vida, coisas que hoje são consideradas de mera importância, mas que naquela época constituíam gigantescos problemas e obstáculos duros de ultrapassar.
Mas na realidade, mesmo após alguma insistência na sua introdução nas novas mentalidades, infelizmente outras preocupações ocupam o cérebro desses jovens e as narrativas do passado, a maioria, acaba por ficar perdida na poeira da longa caminhada, pois constatamos que, infelizmente, cada idoso que desaparece é uma velha biblioteca que se afunda no abismo da eternidade, levando consigo os seus conhecimentos e é pena que assim aconteça, pois o que parece interessar ao povo desta época e afinal as razões porque existimos e respiramos o ar que a natureza gratuitamente nos oferece, são, o futebol e a porca e falsa política de quem nos governa.

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