terça-feira, 26 de outubro de 2010

VIAGEM A ÀUSTRIA
BRUCK AN DER MUR

PRÓLOGO

COMO TUDO COMEÇOU
Esta deslocação à Áustria, mais propriamente a Bruck an der Mur, estava longe dos horizontes do Rancho de Tercena, uma vez que logo no início do ano estava prevista uma deslocação à Madeira, a Porto Santo, para o grupo participar no VIII Festival daquela Vila.
Os projectos estavam elaborados, o convite tinha surgido, e o Plano de Actividades previa uma deslocação, só que na altura em que foi elaborado jamais se sabia onde se dirigia a deslocação do ano seguinte, embora a despesa manifestada não ultrapassasse os doze mil euros.
Nesta conformidade, tudo estava indicado para uma visita à Madeira, com o grupo a deslocar-se ainda, excepcionalmente à cidade do Funchal, para actuar em qualquer lugar que coincidisse com as datas daquela viagem que estava prevista para os últimos dias do mês de Agosto.
Entretanto, chegou ao conhecimento da direcção da Associação que, a sua Câmara Municipal, iria reduzir os subsídios do ano, e como tal, logo aí houve um afrouxamento da ideia, contudo consultados alguns elementos responsáveis da autarquia, estes informaram que os cortes, se de facto existissem, seriam diminutos e a ideia prevaleceu, mas ao saber-se que um outro grupo do concelho ali se deslocava igualmente, neste caso o Grupo “As Lavadeiras” da Ribeira da Laje, logo a deslocação perdeu força, porque se tratava de dois grupos com as mesmas características e isso poderia não ser muito agradável.
Entretanto o responsável pelo Festival insistia com o grupo de Tercena, porque precisava de mais um rancho do continente e então a ideia ficou definitivamente assente.
Ao chegar a Abril, a Associação soube que os subsídios estavam atrasados e como tinha de fazer a reserva da viagem de avião e as finanças não erram as melhores, acabou mesmo por tomar a decisão de desistir de ir ao Porto Santo, juntando ainda a isto o facto de ali se deslocarem dois grupos do concelho e representando a cultura saloia.
E assim ficou determinado, com alguns elementos do rancho a ficarem tristes por não haver nenhuma saída para fora e logo no ano em que a colectividade completava vinte anos de existência, mas a direcção ponderou decidindo que, seria pouco prudente arriscar uma viagem, quando se desconhecia quando é que os subsídios seriam pagos.
Ao atingir-se o mês de Julho, a Associação recebeu um convite do Inatel para deslocações a vários lugares, entre elas a que se dirigia a Bruck an der Mur.
Como continuava a saber que a sua Câmara iria fazer uma pequena redução nos subsídios devido à crise, foi ponderada a ideia de ir à Áustria, uma vez que o convite garantia que o alojamento e a dormida seriam por conta da organização austríaca e como tal isso iria ficar muito mais barato que a inicialmente prevista para o Porto Santo.
Inscreveu-se e como a data era próxima da inicialmente indicada para aquela vila madeirense, e como alguns folcloristas já tinham marcado férias para essa altura, a inscrição foi efectuada.
Foram feitas as reservas dos lugares de avião, numa agência de viagens, que até nem fez muitas exigências quanto ao pagamento e ficou decidido, contudo reinava a grande expectativa da viagem não correr bem na Áustria por ali se falar alemão e ninguém do grupo entender essa língua, mas havia lá alguém que falava inglês e isso já se tornava mais animador, contudo do grupo só três ou quatro pessoas ”arranhavam” essa língua.
Foi então que o responsável pela viagem pediu à organização, para ver se lhe arranjavam uma guia que falasse português, ou espanhol, vindo de imediato a resposta de que havia uma senhora que falava espanhol e inglês.
Os ânimos floriram e o grupo partiu precisamente no dia 1 de Setembro ás 6,15 h num avião da Lufhdansa com escala em Munique.
Em Viena estava uma senhora à espera do rancho, mas só falava inglês, o que fez murchar um pouco os ânimos, contudo, no primeiro dia quando os grupos foram apresentados no jantar, a alegria invadiu o rosto dos elementos do Rancho português, pois a guia que estava reservada para as “Macanitas” de Tercena, falava português.
Foi uma explosão de contentamento que apareceu em todos os rostos portugueses ao ouvirem àquela distância soarem palavras na língua de Camões, pois embora um português algo trapalhão, dava muito bem para se entender e foi assim que o grupo acabou por passar os cinco dias que ali esteve, falando com a Cristiana, que percebia umas coisas, outras não entendia, mas com inglês à mistura, um pouco de espanhol e algumas frases em francês, tudo foi perceptível e nada lhes escapou no respeitante ao entendimento, mas aquilo que se pretendia divulgar, ou sejam, as razões porque estava ali o grupo português ?.... O que representava o rancho, o que ele significava em Portugal ?...
O que queriam dizer os seus utensílios e as razões pela qual os transportavam consigo, ficaram por explicar porque a Cristiana, apesar de saber um pouco de português, não foi capaz de dar essa explicação convenientemente, pese embora em certas actuações as pessoas terem entendido melhor, porque como eram apresentadas as suas danças em exclusivo, e não havia a preocupação do tempo de actuação, essas pessoas acabaram por ser privilegiadas e como tal via-se mesmo no rosto dos austríacos que compreendiam o porquê de toda a tralha que o grupo levava consigo.
Por isso, das treze actuações executadas, pode-se garantir que foi muito positivo porque só em três é que essas explicações não foram feitas, mas a verdade é que o tempo também condicionou, uma vez que era escasso e mal chegava para se apresentarem as principais modas.
Também é verdade que os outros grupos não tiveram com essas preocupações, pois apresentaram um repertório pouco condicente com os seus hábitos, costumes e época, já que a ideia era, a experiência algo lhes dizia, que o necessário era agradar ao público e pouco mais.
Os portugueses pretendiam, bem ao invés, também agradar, mas explicar bem porque razão não se apresentavam as mulheres de cabelos arranjados, unhas ou lábios pintados, porque na época em que tudo aquilo se passara nada disso era usual e as pessoas apenas viviam preocupadas com o trabalho e com o modo mais eficaz de sobrevivência, já que toda a gente era pobre e vivia praticamente do trabalho rural.
Analisando os grupos que ali se apresentaram, nos anos quarenta do século passado, a pobreza era grande e geral no seio da Europa, muito especialmente na Alemanha, na Áustria, na Roménia, na Itália, Bulgária, na Croácia e na Holanda porque a Europa estava em conflito e como tal tudo se devastara, e as pessoas viviam ainda em piores condições que em Portugal, e como tal deveriam apresentar-se com trajes pobres e não com o aparato de fatos garridos, curtos, de tecidos modernos e francamente ricos.
É precisamente nestes pormenores que os portugueses saíram da Áustria com sucesso, porque quem escutou estas explicações, e as assimilou, ficou a saber que na realidade estavam diante de um grupo que representava a sério o seu povo de antanho, os seus usos, costumes, tradições e afinal o seu real valor social no final da II Guerra Mundial.
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